Entendendo as atividades do Lean Inception

Felipe Soares
7 min readFeb 22, 2021

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O Lean Inception é um processo formado por um conjunto de atividades que auxiliam na definição do negócio, detalhamento e priorização das features do produto a ser construído. Funciona como uma espécie de passo a passo que direciona o time a chegar ao MVP a ser construído. Nos tópicos seguintes irei dar uma visão geral sobre cada uma dessas atividades e o resultado gerado por elas, até a definição e estruturação do Canvas MVP.

1 — Visão do produto:

O primeiro passo do lean é ter uma visão clara do seu produto, é a partir dessa identificação que o time pode ter um direcionamento e um pensamento mais concreto sobre o produto que se deseja construir. Para facilitar esta definição pode ser usado o template abaixo:

Nesta atividade cada integrante do time ou em dupla, ou trio (depende do tamanho do time), deve ficar responsável por completar uma linha do template acima. É normal que as frases fiquem sem uma coerência, assim cabe ao time como um todo, ao final da atividade reescrever o modelo reformulando as frases ou mesmo alterando suas posições ou complementando quando necessário.

2 — O produto É/Não é/Faz /Não faz

Nesta atividade é o momento de trazer as definições do produto de forma mais específica em cima do que já foi definido como visão do produto. O time deve completar as seguintes sentenças:

  • O produto é …
  • O produto não é …
  • O produto faz …
  • O produto não faz …
Fonte: https://www.caroli.org/e-nao-e-faz-nao-faz/

Este passo é interessante pois pode trazer o clareamento sobre funcionalidades do produto, sobre o que ele faz e não faz e também seguindo um critério de decisão estratégica, definir funcionalidades que talvez nunca vão ser desenvolvidas para o produto, e até mesmo outras que para o momento não faz sentido mas que num futuro podem ser priorizadas.

3 — Esclarecendo o objetivo

Essa atividade é mais um alinhamento da equipe sobre o que cada integrante do time entendeu sobre a visão do produto e suas definições a partir das atividades anteriores. Todos devem explicar a sua visão sobre o produto construída individualmente até o momento e discutir. Quando todo o time chegar a um ponto de congruência entre os pontos discutidos, neste momento teremos uma visão de produto definida.

4 — Construção das Personas

As personas são os usuários do sistema, o público alvo da solução. Nesta atividade as personas devem ser definidas pelo time, baseando-se no produto a ser construído; sendo descrito detalhadamente, suas informações pessoais, demográficas, comportamentais, necessidades, contexto de uso, metas a serem alcançadas e suas dores.

O ideal é que sejam construídas mais de uma persona e que elas façam referência ao usuário real da sua solução, mesmo que os dados utilizados sejam fictícios.

Modelo de quadrante de personas

Para auxiliar a descrição das personas e entender melhor suas dores e necessidades, pode ser realizado também o mapa de empatia.

Modelo do Mapa de empatia

5 — Brainstorming

O brainstorming de funcionalidades é o levantamento das ações e interações do usuário com o seu produto. Esta atividade deve funcionar realmente como uma chuva de idéias que devem ser baseadas nas personas criadas em atividade anterior. Deve ser refletido sobre quais funcionalidades o produto deve ter para atender as necessidades das personas criadas. Aqui vale qualquer ideia que passe e esteja dentro do contexto do produto já definido, a princípio não se deve descartar nada.

6 — Revisão técnica, de negócio e de UX

Com o brainstorming provavelmente foram levantadas muitas ideias, e estas ideias precisam ser mais bem detalhadas e entendidas. Para gerar esse entendimento das funcionalidades e reavaliá-las sobre o que faz sentido e o que deve ser descartado, deve ser realizada a verificação sobre o ponto de vista de esforço e confiabilidade para construção, valor para o negócio e experiência para o usuário.

Neste ponto cada funcionalidade deve ser avaliada e pontuada seguindo um critério de avaliação que deve ser definido pelo time, o que faz sentido de acordo com sua realidade. Como exemplo, podem ser utilizados o gráfico semáforo e a matriz de esforço e valor de negócio, apresentados abaixo.

Gráfico semáforo:

Para preenchimento do mesmo deve ser respondido as seguintes perguntas para cada funcionalidade:

  • Eixo X: Quão confiante você está sobre COMO fazer esse item?
  • Eixo Y: Quão confiante você está sobre O QUE quer desse item?
Fonte: https://www.caroli.org/sequenciador/

Avaliação de esforço, valor de negócio e ux:

Para cada funcionalidade adicionada em matrix anterior deve ser avaliada também quanto ao seu grau de esforço, valor para o negócio e satisfação para o usuário. Cada funcionalidade deve ser comparada com outra e classificada de acordo com a tabela abaixo. Isso deve ser feito até que todas as funcionalidades estejam avaliadas, sempre comparando duas e a seguinte com a anterior.

Fonte: https://www.caroli.org/sequenciador/

7 — Jornadas do usuário

A jornada do usuário descreve uma sequência de atividades e passos que o usuário realiza para completar determinada ação e alcançar um objetivo específico. Nesta atividade esta jornada deve ser detalhada de acordo com o contexto de uso do produto idealizado baseado na trajetória das personas criadas. Deve ser criado uma jornada para cada persona.

Template de jornada de usuário

8 — Mapear as funcionalidades na jornada

Nesta atividade de mapeamento das funcionalidades na jornada, é o momento onde o time irá identificar dentro da jornada descrita em atividade anterior quais as funcionalidades (levantadas no início do lean inception pelo brainstorming e revisadas em atividade de avaliação de valor para o negócio, esforço e ux) se encaixam, povoando assim toda a jornada com estas funcionalidades. Pode ser que neste momento se identifique novas funcionalidades não pensadas inicialmente — estas devem ser inseridas em jornada — e também outras que não se encaixam na jornada do usuário — estas devem ser re-avaliadas e documentadas pelo time porém não devem ser priorizadas.

9 — Sequenciador

Após o mapeamento das funcionalidades o time deve montar o sequenciador de funcionalidades, que representa várias trilhas chamadas de ondas, numeradas sequencialmente. As funcionalidades mapeadas na jornada devem ser organizadas sequencialmente entre essas ondas, sendo distribuídas logicamente de acordo com a jornada do usuário.

Fonte: https://www.caroli.org/sequenciador/

Para facilitar o alinhamento dessas funcionalidades existem algumas regras do sequenciador que devem ser seguidas:

  • Regra 1: Uma onda pode conter no máximo 3 funcionalidades.
  • Regra 2: Uma onda não pode conter mais de uma funcionalidades em cartão vermelho.
  • Regra 3: Uma onda não pode conter três funcionalidades, somente em cartões amarelos e vermelho.
  • Regra 4: A soma de esforço das funcionalidades não pode ultrapassar 5 E’s.
  • Regra 5: A soma do valor das funcionalidades não pode ser menos de 4 $’s.
  • Regra 6: Uma onda tem de conter no mínimo 2 funcionalidades.

Após a distribuição das funcionalidades no sequenciador elas devem ser combinadas seguindo as ondas do sequenciador até que se tenha um conjunto de funcionalidades que dê para disponibilizar para validação de hipótese com o usuário; assim que isto estiver definido e priorizado teremos um MVP. O mesmo deve ser realizado com as demais funcionalidades, seguindo os mesmos critérios, gerando assim os incrementos.

Fonte: https://www.caroli.org/sequenciador-de-features/

10 — Canvas MVP

Após a execução de todas as atividades listadas anteriormente, o time já terá insumos para preencher o Canvas MVP. O canvas é dividido em blocos, onde algumas perguntas devem ser respondidas:

  1. Proposta do MVP — Qual é a proposta deste MVP?
  2. Personas segmentadas — Para quem é esse MVP? Podemos segmentar e testar este MVP em um grupo menor?
  3. Jornadas — Quais jornadas são atendidas ou melhoradas com este MVP?
  4. Funcionalidades — O que vamos construir neste MVP? Que ações serão simplificadas ou melhoradas neste MVP?
  5. Resultado esperado — Que aprendizado ou resultado estamos buscando neste MVP?
  6. Métricas para validar as hipóteses do negócio — Como podemos medir os resultados deste MVP?
  7. Custo & Cronograma — Qual é o custo e a data prevista para a entrega deste MVP? Depois de entregue, quanto tempo precisamos coletar os dados para decidir se pivotamos ou prosseguimos?
Fonte: https://www.caroli.org/o-canvas-mvp/

Com a construção do Canvas MVP, o time já tem definido uma proposta de produto a ser construído e que faz sentido ao negócio e ao usuário, sendo definido sobre as prioridades e maiores dores apresentadas.

Após a execução de todas as atividades do Lean Inception já teremos um MVP definido, alinhado à estratégia do negócio e as necessidades dos usuários para ser construído e validado.

Concluo este artigo trazendo uma citação de Steve Jobs, onde ele diz que ‘as pessoas não sabem o que querem até que você mostre a elas’; e essa definição pode sim, ser alcançada de forma direcionada e ágil através do Lean Inception!

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Felipe Soares

Gestão Ágil de Produtos | Product Owner | Product Manager | criador do @talk_po_pm